20.7.11

História do Tupi da Taba - Parte 1 (1995 a 2000)

Índios Tupinambás...***...Indians Tupinamba

História do avatar personagem Tupi da Taba publicado originalmente no wiki Tabadotupi.tk

1995 - 1996 A era dos avatares
Pioneiro pra mim é aquele cadáver estendido no chão, com o peito atravessado de flechas, q a gente cruza pelo caminho.
Neil Ferreira
Antes da internet comercial, haviam as conexões por BBSs (Bulletin Boards Systems) onde usuários quase todos com fama de nerds se logavam com seus apelidos estranhos. Algumas BBSs de mac, entre elas a Mac BBS, Super BBS, Capslink, já funcionavam em interface gráfica com o software First Class. Entre seus membros habitavam alguns apelidos (tb chamados avatares) com nomes inspirados na mitologia e folclore brasileiros. Citando os mais famosos conviviam Exu Tranca Rede, Ogum, Lucifer, Xangô, etc. Além disso, em outras BBSs, apelidos mais eruditos como Her Doctor Mabuse e Nemo Nox tb iriam iniciar sua presença.

Em meados de 1995 surgiu nesse ecosistema digital um usuário denominado Tupi, cujas mensagens na Super BBS eram carregadas de um estilo quase jurídico de escrever, muitos interlocutores o julgaram como um velho advogado ou mesmo assessor de deputado. Apesar do costume de usar de apelidos, vários usuários não eram atraídos por este estilo e adotavam seus nomes verdadeiros. Desta forma Tupi conviveu nestas BBSs e travou seus primeiros contatos com pioneiros como Caio Barra Costa, Dimitre Lee, Andre Fischer, Tony de Marco, Paula Rizzo, Heinar Maracy, Pedro Doria (Art BBS do RJ), etc.

Geralmente econômico nas mensagens sobre amenidades e comportamento, na Super BBS Tupi tentou implantar uma pasta onde se discutiam os eventos e empreendimentos discutidos na comunidade online. O fato mais concreto foi uma campanha para evitar q os pais de uma usuária adolescente proibissem o acesso a BBS por considerar nocivo, viciante e coisa de maluco o hábito de trocar informações pelo computador. A campanha arregimentou argumentos a favor das vantagens da convivência remota e formou um grupo de membros repeitáveis para uma visita aos pais e mostrar q os membros da BBSs tb eram pessoas "normais".

Nos EUA, depois da fase de grandes BBSs de sucesso como AOL e Compuserve, o crescimento e popularização da internet já começava a acontecer, e com a rapidez com q empresas e usuários chegavam a web muitos intelectuais e jornalistas usavam a analogia com a "corrida do ouro" e a "conquista do oeste". Nessa linha tinha sido fundada a EFF (Eletronic Frontier Fundation) refletindo q os usuários antigos do ciberespaço, geralmente pessoas do meio acadêmico e pesquisadores para os quais a web tinha sido originalmente criada, sentiam q suas tribos estavam sendo invadidas. Assim Tupi, além do apelido indígena, adotou o lema - "Se o ciberespaço é a última fronteira da humanidade, quem vai fazer o papel dos índios?" - q estampava a pg pessoal de Claudio Santos Pinhanez, um dos raros pesquisadores brasileiros do MIT (Massachusets Institute of Technology, laboratório de vanguarda em narrativas multimídias na época).

Naquele tempo, acessar internet e ambientes virtuais causavam extrema estranheza por um lado mas tb extrema excitação e fascinação por outro. Teorias sobre comportamento e psicologia do espaço virtual defendiam os avatares como libertadores da personalidade e tb alertavam para casos de esquizofrênia e outros distúrbios de personalidade q já aconteciam por exemplo entre adeptos dos games online tipo RPG modo texto q existiam (MUDs Multi User Dungeons, etc). Esse tipo de visão do ciberespaço e da diferenciação mundo real versus mundo virtual explica o fato do Tupi nunca ter se materializado em reuniões presenciais ou eventos fora do mundo digital.

Como os usuários de Mac eram predominantemente da área das comunicações e multimídia, consequentemente os usuários das BBSs da plataforma abrangiam vários designers, publicitários, videomakers, animadores, músicos, etc. O q tb dá uma pista do ambiente em q foi engedrado o avatar Tupi, q em raras mensagens deixou claro sua ligação com uma vida profissional ou corporativa.

Outros fatos desta época q aparentemente influenciariam as idéia do Tupi tem relação com a defesa do teletrabalho e da digitalização radical.

Um deles foi a iniciativa em 1994, mais marketeira do q estrutural, da agência de publicidade americana Chiat and Day divulgar seu projeto ambicioso de adoção do trabalho remoto, abolindo espaços e escritórios pessoais e horários fixos de expediente. Outro fato foi o raciocínio usado pelas empresas de automação e editoras de multimídia em CD-Rom de se venderem como substitutos do excesso de uso de papel e atitude ecologicamente correta e economicamente imbatível. Hoje em dia esses assuntos não exaltam sequer discussões ruidosas e reações bombásticas como acontecia na época.

Com a chegada da internet comercial no final de 1995, a partir daí gradativamente as mensagens e atuação do Tupi acompanhou a migração das BBSs para a world wide web.


1996 - 1997 A era dos nerds
Escolha fazer o q gosta e nunca precisará trabalhar.
Ditado empreendedor
A princípio como assinante do provedor da Phillips brasileira, o Originet.com.br, Tupi aparecia pela incipiente e rarefeita web em português, cujo cunho comercial começou pra valer no ano de 1996, depois de uma fase de testes em q a Embratel avaliou a aceitação do serviço.

Assinante da lista WD Design, organizada por Michel Lentz Schwartzman, q nesta época havia recentemente chegado dos EUA d onde presenciou o início do crescimento acelerado da internet comercial. A lista q Michel fundou acabou reunindo os profissionais da área de design e comunicação q então começavam a experimentar o novo meio. De certa forma esse ambiente não era o predominante já q então a internet era vista como alçada dos departamentos de informática e tecnologia das empresas. Para se ter uma idéia, no início do UOL a welcome page tinha banners do Bradesco com martelinhos em gif animado anunciando leilão de imóveis, típico de um planejamento de mídia e criação sendo feita por profissionais de informática do banco.

No começo, na lista WD Tupi começou a mudar o estilo em q escrevia as mensagens, misturando gírias da periferia paulistana, jargões de tecnologia e referências ao folclore indígena e a visão romântica de uma cultura nativa idealizada. Geralmente defendia um modelo autóctone de produção desprendido das rotinas e práticas das empresas de design até então. Participou ativamente incentivando a produção coletiva do webzine Porta200, feito de forma remota por alguns integrantes da lista. Qdo a lista iniciou a formação da Promit (Associação dos Profissionais de Mídia Interativa) defendeu um modelo totalmente virtual e automatizado de atuação, no qual foi derrotado e a associação nasceu com inúmeras reuniões, comites e representações regionais pelo Brasil.

Logo a defesa da desterritorialização, do potencial do trabalho remoto e assíncrono, dos agentes independentes e da remuneração por resultado começava a se tornar foco central nas msgs do Tupi. Aliado aos mantras da indústria de informática, como "mais rápido, melhor, mais barato" e "circule a informação, não as pessoas", frases repetidas a exaustão pelo marketing de TI para firmar poder diante de outros mercados. Outros conceitos vinham acompanhados de exemplos badalados dos sucessos corporativos como a Dell, com o "build-to-order", ou só fabrique depois da encomenda, e conceitos como "mass customization" (produção em massa de produtos sob medida), marketing de rede (programa de afiliados) e personalização.

Na lista WD além do seu fundador Michel, naquela época participavam tb Alex Anunciato, Rubens "Binho" Miranda Jr, Hélio Sassen Paz, Andreia "Dedéia" Évora Cals, Zé Fernando "Rorschach", Hiro Kozaka, Daniel Rothier, Rene de Paula Jr, Irapuan Martinez, Rafa Spoladore, Lu Terceiro, Jampa, Flavia Durante, Stimpy, etc. Muitos deles participantes dos projetos coletivos espontâneos surgidos na lista e iriam protagonizar o movimento blog anos depois.

Nesta época a revista Wired, encontrada em bancas nas capitais brasileiras, era a bíblia da vanguarda do pensamento digital, cujas matérias, estética e entrevistas repercutiam muitas das idéias descritas acima e eram obrigatoriamente citadas pelos fascinados por um futuro com tecnologia e abundância. Na capa da revista havia um espaço para slogans triunfalistas em clima de "revolução digital", um desses slogans foi o lema da luta pelos direitos civis e ação afirmativa afro-americana: "a revolução não será televisionada." Cuja adaptação para o momento da euforia com a internet era perfeitamente adequada. Tupi imediatemente adotou o lema pois casava com as idéias e o estilo de linguagem, afinal, como nos EUA, a militância adotava as mesmas palavras de ordem nos raps e discursos pela periferia. Voltando a revista Wired, por ironia a última dessas frases de efeito impressas nas capas foi: "a revolução acabou, nós vencemos." Isso foi logo antes da publicação, iniciada por pequenos empreendedores visonários ter sido vendida para uma grande editora monopolista, a Conde Nast.

Ao mesmo tempo q participava da lista WD, Tupi foi convidado a escrever para o webzine Hiperatividade, organizado por Fernand Alphen, então colunista de mídia interativa da revista About, especializada no mercado de comunicação e publicidade. Neste webzine ele escreveu textos defendendo posições polêmicas e alertava ao público, publicitários e profissionais de mkt, do tipo de insanidades a idéia de uma mídia interativa, q dava voz aos espectadores, além do mais pulverizada e inédita, poderia causar. Um das afrontas comuns aos textos do Tupi naquela época era defender uma sociedade sem papéis, isso em um site patrocinado por uma revista :-)


1998 - 2000 A era dos pontocoms
Em tempo de redemoinho, até peru avoa.
Ditado americano.
Com a febre das pontocoms, empresas, banqueiros e profissionais construindo sites e empreendimentos online ambiciosos e megalômanos, o discurso do Tupi acabou ficando exótico, deslocado e até mesmo tímido. Rios de dinheiro e investimento chegavam ao ciberespaço e avatares, discursos de fronteira ficaram totalmente fora de moda diante do futuro brilhante e próspero d q a web estava predestinada a dominar todo o resto da economia.

Neste período as mensagens do Tupi desapareçam das listas que frequentava, assim como de vários outros chamados dinossauros da internet, que talvez se assustaram diante da avalanche de novos aventureiros e curiosos que chegavam as centenas querendo participar da alegada fartura e histórias de milionários instantâneos q a mídia de massa divulgava ser o mundo digital.

Ao mesmo tempo q sumia das listas, em contraste com a ausência nas listas e comunidades virtuais de então,Tupi fundou uma comunidade própria no Yahoo Groups chamada 3C - Companhia de Colonização do Ciberespaço, um embrião das idéias do clube de investimento e Coletando no wiki da Taba, q fracassou em atrair integrantes. Logo em seguida, em novembro de 2000, inaugurou uma pg no Geocities, incorporada pelo Yahoo q lançava ferramentas de edição wysiwyg, q poderia ser considerada um precursor tosco do wiki e do blog além de já trazer a estrutura de arquitetura de informação que existiu no wiki da Taba. A comunidade 3C mudaria o nome para Taba do Thupyi - ID no Yahoo cuja grafia já demostrava a falta de velocidade em registrar a alcunha Tupi antes de outros usuários. A mudança não surtiu efeito atrativo nenhum e o grupo aparentemente foi apagado do servidor.

Paradoxalmente Tupi criou, registrou e manteve o domínio Tabadotupi.net de 2000 até 2002. Período de grande inatividade e q hospedou pgs quase nunca atualizadas e arquivos q apenas serviram para ser exibidos ou linkados em outros sites e comunidades virtuais.

Outro fator curioso foi q a bolha pontocom e o frenesi da mídia de massa sobre o assunto tb incentivou a chegada do movimento hip hop na internet, imediatamente ao surgimento do site Bocada Forte, Tupi chegou a desfilar com o webmail grátis cybermanos.com.br fornecido por este site pioneiro.

Somente qdo o fim da bolha se tornou evidente as mensagens do Tupi começaram a retornar lentamente sua frequencia, desta vez alem da lista WD Design, nas listas Palindromo e Radinho, fundadas por profissionais de internet, arte e comunicação. Enquanto as demissões em massa e falências dos empreendimentos pontocom financiados por capital especulativo se espalhava rápida e ferozmente, a terra arrasada do cyberespaço daria lugar aos remanescentes teimosos e virava terreno fértil para novas experiências como o software livre, blogs, wikis e mercados c2c.

Continua: 2001 - 2004 A era do Linux, Projeto Metafora, Midia Tática (tática x estratégia), Recicle 1 politico, etc., 2005 - 2006 A era do wiki (Tabadotupi.tk), 2007 - 2010 A era do gelo, 2011 - ...

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