17.10.05

CLAP Conhecimento Livre e Aberto de Produção

Tux_ubuntu

Liga idéia mil graus do tiozinho José Monserrat Neto, professor da UFLA Lavras/MG e da APBES Associação Brasileira de Pesquisadores da Economia Solidária. Ligeiro fiz um copy paste do PDF do tiozinho lá no wiki da Taba. Olha a conversa:
Reflexão sobre o Modelo de Software Livre como Caminho para Construção de um Novo Sistema Econômico

(...) As várias atividades humanas são consideradas (por Mouzelis) como interdependentes, mas relativamente autônomas. Isso permite conceber o desenvolvimento social como aberto às surpresas da criação histórica (Monserrat 2004), e sustenta a concepção de Singer(1996) para o surgimento do capitalismo, em que o autor distingue a ‘revolução política capitalista’ da ‘revolução social capitalista’, concluindo que o capitalismo surgiu nos interstícios do sistema feudal e do sistema de oficinas artesanais, e não a partir de uma revolução burguesa.
(...)
A visão de Singer nos estimula a refletir sobre o potencial da Internet, bem como de suas ferramentas de trabalho cooperativo (e-cooperative work) e de democracia on-line (e-democracy).
Quem sabe se a Internet não seja a inovação tecnológica que possibilitaria a vantagem competitiva decisiva para a construção de um novo sistema de produção, já que permite o livre fluxo de informações e o trabalho cooperativo à distância, numa escala sem precedentes no mundo, talvez tão radical quanto foram as primeiras máquinas fabris do século XVIII? Não seria a Internet a invenção tecnológica passível de ser explorada plenamente apenas por organizações de caráter decididamente cooperativo e democrático? O curioso é observar que já existe um precedente, e muito bem sucedido: o sistema cooperativo de produção de software, da “indústria” de 'software livre de código aberto' (Free Open Source Software – FOSS).
(...)
Modelo de Produção de Software Livre em outras Áreas da Economia
Há uma diferença crucial entre entre a produção de software e a de bens materiais: o produto final. Software é um tipo de informação, imaterial em sua essência, fácil de ser copiado, distribuído e compartilhado. Já os bens materiais não podem ser “copiados”, e não são fáceis de se compartilhar. Como consequência, ao vender um bem material, o produtor é alienado deste.
(...)
Nas outras áreas econômicas, os bens materiais não são compartilháveis, como também não o são as ferramentas, máquinas e a infraestrutura física, de um modo geral. Porém, o conhecimento da produção (técnicas, know-how, blueprints, etc) é de fato compartilhável e muito semelhante ao software. Esta é a chave para se expandir o modelo de software livre para outras áreas da economia. No modelo capitalista tradicional, o conhecimento de produção é visto da mesma maneira que o software no modelo proprietário: o resultado de P&D e o conhecimento de produção são mantidos em segredo, apropriados de forma privada e, frequentemente, protegidos contra competidores por meio de patentes, de forma a garantir o monopólio da inovação. Assim, os custos de desenvolvimento do conhecimento de produção, bem como o monopólio sobre o conhecimento fechado, passam a ser embutidos no preço final do bem material, podendo resultar em produtos com preços exorbitantes, na escravização de consumidores e, é claro, em monopólios econômicos.
(...)
Inversamente, o conhecimento de produção poderia ser visto do mesmo modo como é visto no modelo de software livre: o conhecimento de produção poderia ser desenvolvido cooperativamente e apropriado coletivamente. Poderíamos chamá-lo de Conhecimento Livre e Aberto de Produção (CLAP), e imaginar um CLAP específico para cada área de produção, de TVs e carros a móveis e casas. Pode-se imaginar então um paralelo completo entre o modelo FOSS e o modelo CLAP.
Assim, no modelo CLAP, o conhecimento de produção, de qualquer área, seria desenvolvido numa comunidade voluntária de desenvolvedores, produtores e consumidores, cuja característica principal seria a de ser enorme, forte e amigável, baseada na cooperação, e não apenas na competição. Haveria uma característica-chave no modelo CLAP: suas licenças, do tipo GPL, manteriam livre todo novo conhecimento de produção desenvolvido a partir dos anteriores.
(...)
Deste modo, a produção do 'conhecimento livre e aberto de produção' (CLAP) se tornaria intrinsecamente cooperativa e conduzida pela comunidade. Além disso, o modelo CLAP propiciaria um novo tipo de negócio, baseado na venda de produtos materiais e serviços, só que a partir não dos resultados fechados de atividades de P&D, e sim do conhecimento livre e aberto de produção, desenvolvido cooperativamente e apropriado coletivamente. Organizações cooperativas abertas se sustentariam a partir da própria produção de bens materiais, e de serviços relacionados, ou seja, a partir do trabalho realmente efetuado para produzi-los. A competição seria então realizada entre os tipos, variedades, combinações e qualidade dos bens produzidos e serviços prestados. Presumivelmente, o modelo CLAP poderia ter várias consequências positivas: (a) inovações mais orientadas às reais necessidades dos consumidores; (b) conhecimento de produção mais rapidamente desenvolvido, e bens produzidos que o utilizam apresentando melhor qualidade; (c) cooperação e competição ambas amplamente estimuladas, acelerando o avanço tecnológico; e (d) escravização de consumidores e surgimento de monopólios naturalmente evitados. Esta visão é poderosa e utópica, mas qual seria a viabilidade real do modelo CLAP?

Viabilidade do Modelo CLAP

Algumas das condições que parecem imprescindíveis para tornar viável o modelo CLAP seriam as seguintes:
(1)Proteção efetiva do conhecimento livre e aberto de produção, que evite sua apropriação privada e quaisquer restrições a seu acesso público. A lei de patentes é o fator que mais complica o modelo CLAP. Algumas alternativas seriam: (a) uma licença do tipo GPL; (b) uma licença do tipo “patent-left”, similar à “copy-left”; (c) uma licença do tipo “creative common”, semelhante à usada para trabalhos criativos (Lessig 2004). Esta é uma questão em aberto.
(2)Massa crítica mínima de uma comunidade de desenvolvedores, produtores e consumidores, de modo a tornar auto-sustentáveis a abertura e manutenção de negócios CLAP, em qualquer área específica da economia.
(3)Ruptura na cultura individualista de construção do conhecimento e de abertura de negócios, por meio da criação de uma nova cultura de cooperação mais ampla e de negócios que poderiam ser feitos a partir dessa cooperação aberta.
Quem adotaria o modelo CLAP? A área de software nos ajuda a revelar respostas. Grandes empresas jamais adotariam o modelo FOSS. Do mesmo modo, a maioria das empresas tradicionais das outras áreas econômicas também não o adotariam, especialmente as grandes. O modelo CLAP talvez pudesse ser adotado por pequenas empresas (talvez parcialmente), por organizações sem fins lucrativos e não-governamentais. Creio que o modelo CLAP poderia ser adotado e desenvolvido por organizações cooperativas (Monserrat 2005a), especialmente as envolvidas na economia solidária (RBSES 2004).
(...)

Sentiu firmeza?
A revolução não será televisionada!

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-> Compartilhando Banners : Livro - A Economia Solidária no Brasil. A autogestão como resposta ao desemprego.
-> Arquivo: 19.8.2005 : Etsy.com - Pelo fim da produção industrial em massa

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